O Banco Central do Brasil (BCB), revelou por meio do economista Fabio Araújo, responsável pelo projeto do Real Digital dentro do BCB, que em 2022 o país começará as provas de conceito com o Real Digital e, dentro delas, haverá o uso de blockchain (bases de registros e dados distribuídos, que são compartilháveis e guardam informações permanentes de todas as transações realizadas em um determinado mercado).
Fábio destacou contudo que o BCB começara a realizar testes da versão digital do Real com blockchain no próximo ano e que, embora isso não signifique que a CBDC do Brasil será construída em blockchain, chegará um momento em que a tecnologia terá lugar de destaque no sistema financeiro nacional.
Redução do uso de papel moeda
De acordo com dados do BCB, em junho de 2021, o total de papel-moeda em poder das pessoas era de R$ 283 bilhões, enquanto o volume de depósitos à vista (dinheiro depositado em conta-corrente, sem remuneração pelo banco) era de R$ 333 bilhões. Ao acrescentar a esse valor outras formas de liquidez, como os depósitos remunerados, operações compromissadas (compra e recompra de ativos com pagamento de juros) e títulos públicos federais, havia um total de R$ 8,9 trilhões disponíveis de forma digital. Ou seja, apenas cerca de 3% dos recursos disponíveis para as operações no país estão na forma de papel-moeda.
O Banco Central diz que a criação do real digital não tem o objetivo de eliminar de vez o papel-moeda, mas a tendência é que seu uso se reduza mais. “A intenção é que o dinheiro em papel conviva com o real digital ainda por muitos anos. No entendimento do BC, à medida que a população se torne mais confortável com os novos meios de pagamentos digitais, o uso do dinheiro no formato de papel se reduzirá naturalmente”, ressaltou a agência.
Adeus Inflação
Moedas digitais como o real digital são lastreadas no papel físico, ou seja, acompanham a volatilidade do real, e estão suscetíveis aos impactos da política monetária do país.
Sendo assim, Fabio afirma que a moeda não terá impacto na demanda inflacionária nacional.
“A gestão da inflação é feita através das métricas de liquidez da economia, e a CBDC (Moeda digital do Banco Central, na sigla em inglês) só será mais um dos mecanismos financeiros sem impacto real no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)”, conclui.
O Real Digital não será como o Bitcoin
Segundo a Agência Senado, o dinheiro digital já existe em outros países, como uma versão virtual da moeda oficial de cada nação. Oficialmente, ela é chamada de CBDC, sigla para Central Bank Digital Currency (Moeda Digital Emitida por Banco Central, em português). O serviço é usado para realizar compras e investimentos, estipular valor de produtos e outras finalidades. Fábio Araújo explica que a CBDC brasileira não pode ser confundida com um criptoativo privado, como o Bitcoin.
“O Banco Central mantém sua opinião de que os criptoativos são especulativos e trazem aletos riscos para as carteiras dos indivíduos. A CBDC é simplesmente uma expressão do real normal, o real físico que você já usa no seu dia a dia”, disse.
De acordo com o assessor, o e-Real seria emitido pelo próprio Banco Central e distribuído oficialmente pelo sistema financeiro para operações como pagamentos no varejo, além do fomento a novos modelos tecnológicos. “O principal objetivo seria acompanhar o dinamismo da evolução tecnológica da economia brasileira para contribuir para o surgimento de negócios. Também vai permitir que a gente aumente a já grande eficiência do nosso sistema de pagamentos e favoreça a participação do Brasil no cenário econômico regional e global. Com isso, o Banco Central teria uma ferramenta para cumprir as suas missões de estabilidade monetária e financeira numa economia que é cada vez mais digital”, afirmou.
Não é uma novidade, mas uma adaptação
O coordenador de Sistemas Financeiros do Ministério da Economia, Daniel Gersten Reiss, também participou da audiência pública. Ele lembra há 20 anos os pagamentos digitais respondem por mais de 96% do mercado monetário brasileiro.
“O real já é digital. Dando um exemplo pessoal, desde o início da pandemia eu não saquei uma única cédula, uma única moeda de real. Os cartões de pagamento, o internet banking e mais recentemente o Pix acabam por atender boa parte das necessidades de pagamento e guarda de valores das pessoas”, disse.
Moedas digitais no mundo
Segundo informações do Banco Central, as Bahamas foram o primeiro país a lançar oficialmente seu CBDC, o Sand dollar, em outubro de 2020. A China tem um projeto-piloto em algumas cidades e fará testes com visitantes estrangeiros nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim de 2022.
O banco central dos Estados Unidos, o Fed, e a Digital Dollar Foundation trabalham para lançar a moeda digital também. Outros países, como Coreia do Sul, Japão e Suécia, também estudam o lançamento da CBDC.
Por Holofote Digital com informações de Monitor Mercantil, Coin Telegraph, IG Notícias e Agência Brasil (EBC).
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