Capítulo 2: Preso na caixa
“Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado ao terceiro céu. Se foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe.
E sei que esse homem — se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe — foi arrebatado ao paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar”. (2 Coríntios 12: 2 – 4). O autor da fala é o Apóstolo Paulo, alguns teólogos afirmam que ele falava de si mesmo na referida passagem. Agora imaginemos como é a mente de alguém que conhece um lugar melhor, percebe que aquilo que estamos acostumados não é tudo. Ao voltar para seu mundo, como essa pessoa ficaria? Provavelmente ela nunca mais seria a mesma, pois se tornaria inconformada com a realidade em que vive. O que fica claro na seguinte declaração: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela transformação de sua mente[…]”(Romanos 12:2). Tal afirmação está amalgamada com uma declaração de Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.
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Esse pode ser o grande trunfo do continente europeu, afinal, os países europeus são em regra (além de pequenos) muito próximos um do outro, o que possibilita as viagens, que nem mesmo precisam ser feitas de avião. Uma viagem de trem de Amsterdã (Holanda) a Paris (França), por exemplo, tem a duração de 04 horas, há outras rotas com trens de alta velocidade que fazem o percurso em 03 horas. Dessa forma, as populações são influenciadas pelo que vem dando certo nos países vizinhos e não tem facilidade em se conformar com políticas errôneas em seus respectivos países, o que possibilita o crescimento de todos. Um exemplo foi a França, que no ano de 2012 chegou a taxar os milionários do país em 75% do seu patrimônio. O resultado foi que esses milionários deixaram o país e levaram suas empresas para outros países como Bélgica e Suíça, o que ocasionou um desemprego acelerado na nação, fato que levou o primeiro Ministro Britânico, George Osborne a se divertir a custa dos franceses: “E qual distrito criou mais empregos do que a França inteira? O distrito de Yorkshire”. Logo, o presidente francês da época, François Holande, diminuiu a alíquota para 50% e ao assumir o posto, Emmanuel Macron afirmou que tal tributação transformava a França em “uma Cuba sem sol”.
É natural que presidentes cometam falhas, é normal ações políticas darem errado, mas quando a “grama do vizinho é mais verde”, o povo percebe que existem outras alternativas. Não há dúvidas de que no continente europeu concentra-se a maior parte dos países desenvolvidos do mundo. No relatório mundial de felicidade, apresentado pela ONU, o primeiro colocado é a Finlândia; no Ranking dos melhores países para empreender em 2020, elaborado pelo Ranking Us News & Word Report, o 1º lugar ficou com a Alemanha; e entre os países com melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) a Noruega ocupa a 1ª posição. Esses vencedores tem uma coisa em comum, são europeus.
Diferente da realidade europeia, o Brasil é um país imenso. Para se ter uma ideia, a Dinamarca cabe dentro do Estado do Rio de Janeiro e o Reino Unido cabe em São Paulo. A grande extensão de nosso país possibilita muito mais viagens dentro do próprio território nacional do que para o exterior. Em 2018 o Instituto Locomotiva realizou uma pesquisa que averiguou que 91% dos brasileiros nunca viajaram para o exterior, enquanto 62% já viajaram dentro do país. Mas não podemos dizer que estamos desconectados do restante da humanidade, pois a maioria dos países da América Latina faz fronteira com o Brasil. No entanto, nossas conexões não são com países que possuem grandes referências, nos 03 rankings apresentados no parágrafo anterior, nenhum país latino aparece entre os 10 primeiros colocados.
É claro que os países latinos poderiam ter crescido mais, é natural pensar que deveriam existir países com maior destaque próximos ao Brasil, porém, é difícil que isso aconteça quando a mesma visão é implantada em toda a vizinhança. Há 30 anos, Luiz Inácio Lula da Silva, na época, apenas um candidato a presidência da república e Fidel Castro, presidente cubano, criaram o Foro de São Paulo. Acompanhe um trecho da carta que Lula escreveu ao Foro de São Paulo pela celebração de seus 30 anos: “Numa conversa que tive com Fidel na época, coincidimos que seria importante analisar esta nova conjuntura e seus impactos para a América Latina e o Caribe e decidimos que o PT poderia convocar um encontro de partidos e de movimentos políticos de nossa região para discutir este tema e as iniciativas que deveríamos adotar”. Os membros do Foro de São Paulo se reúnem de 2 em 2 anos para compartilhar experiências e conhecimentos a respeito de políticas públicas. Acompanhe um trecho do discurso de Lula em apoio a Hugo Chavez no ano de 2012: “Em 1990, quando criamos o Foro de São Paulo, nenhum de nós imaginava que em apenas duas décadas chegaríamos onde chegamos. Naquela época, a esquerda só estava no poder em Cuba. Hoje, governamos um grande número de países e, mesmo onde ainda somos oposição, os partidos do Foro têm uma influência crescente na vida política e social. Os governos progressistas estão mudando a face da América Latina”. A medida que Foro de São Paulo conseguiu eleger seus representantes, sua visão foi propagada entre o povo, tirando alternativas de pluralidade entre os países. Nos tempos em que Lula era presidente, Pepe Mujica estava no comando do Uruguai, Cristina Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Michelle Bachelet no Chile, Ollanta Humala no Peru, Rafael Correa no Equador, Hugo Chavez na Venezuela e Fidel Castro, seguido por seu irmão, Raul Castro, em Cuba, todos faziam parte do Foro de São Paulo.
A diversidade de modelos econômicos e políticos de sucesso está geograficamente distante dos brasileiros e não são todos que possuem a oportunidade de conhecer o mundo fora de sua “caixinha”. De acordo com a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), 889 mil brasileiros foram para a Europa em 2019, o que não corresponde a 1% da população do país.
Se os políticos são eleitos pelo povo, é natural que eles não estejam preocupados em ver a população conhecendo lugares melhores e voltando inconformada com a realidade vivida dentro de sua nação. De acordo com a pesquisa British Council do Instituto de Pesquisa Data Popular, apenas 5% dos brasileiros sabem falar Inglês (língua falada na maior parte do mundo) e apenas 1% falam com fluência, embora o referido idioma faça parte do currículo escolar dos brasileiros. O inglês se tornou um idioma global, não conseguir se comunicar nessa língua é cortar seus laços com o restante do mundo. Existem 18 países onde a maioria da população é nativa de língua inglesa, ao todo, 70 países falam Inglês, alguns como língua oficial, outros como segunda língua. Com o Inglês é possível estabelecer comunicação em países da Oceania, da Ásia, da África e claro, da Europa.
Mas não adianta conseguir se comunicar com os estrangeiros se pobreza criar raízes em nosso solo. Quando as pessoas não tem condições financeiras de sair do país, não é nem mesmo necessário que o Estado as proíba de sair. No país mais fechado do mundo, Coréia do Norte, não se sabe ao certo se as pessoas tem autorização para fazer viagens internacionais, porém, mesmo que elas tenham, dificilmente isso acontecerá. Os norte coreanos recebem em média um salário que equivale a R$ 600,00 por ano, eles garantem que o Estado provê todas as coisas para a população, como moradia, educação, etc. Porém, quem conseguiria viajar com R$ 600,00? Mas é claro que a Coréia do Norte é um caso clássico de um regime opressor. Todavia, muitos brasileiros não possuem condições de comprar o básico no mercado e esse dinheiro se desvaloriza ainda mais com a alta do dólar. É evidente que se a nossa moeda for desvalorizada “lá fora”, menor ainda será o seu poder de compra em outro país.
Em uma palestra proferida em fevereiro desse ano (2020), o Ministro da Economia Paulo Guedes alegou que o dólar alto não representava algo maléfico para os brasileiros. Na época o dólar estava R$ 4,35, segundo Guedes, nos tempos em que chegou a R$ 1,80 (2010) estava uma festa: “Todo mundo indo para a Disneyland, empregada doméstica indo para a Disneyland, uma festa danada”. Paulo Guedes está certo, agora ficou muito mais difícil ir para a Disney, mas esse não é um novo problema para a população de baixa renda e sim para a classe média. Viagens a Disney nunca foram normais para empregadas domésticas, isso nunca foi a regra. Levantamento realizado pelo site “O Tempo” mostra que naquele período uma viagem para a Disney custaria no mínimo R$ 4.461,60. Naquela época, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) as empregadas domésticas ganhavam em média R$ 395,00. Se multiplicarmos o referido salário por 13 (contado o 13º) veremos que as empregadas ganhavam em média R$ 5.135,00 por ano. O que tornaria quase impossível uma viagem para a Disney. Na ocasião, a Fenatrad (Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas) emitiu uma nota de repúdio ao ministro, acompanhe o seguinte trecho: “Com o salário que recebe uma doméstica neste país, a viagem à Disney só ocorre se for acompanhando os empregadores, para tomar conta de seus filhos. Ou seja, a viagem é a trabalho. O salário mal dá para garantir uma cesta básica, nem mesmo financiar um momento de lazer com a sua família”.
“Para todos aqueles que vêm para este local feliz: Bem-vindos. A Disneyland é sua terra. Aqui, a idade revive as memórias do passado e a juventude pode saborear o desafio e a promessa do futuro. A Disneyland é dedicada aos ideais, sonhos e à dura realidade que criaram a América, com a esperança de que ela seria uma fonte de alegria e inspiração para todo o mundo”. — Walter E. Disney, 17 de julho de 1955. Sonho de consumo de boa parte do mundo (inclusive de empregadas domésticas) esse “paraíso” não fica no continente europeu, mas nos Estados Unidos. Um país ainda maior que o Brasil, que também não tem grandes potências mundiais próximas. Mesmo assim, os Estados Unidos ocupam a posição de maior potência militar e econômica do mundo. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, entre os brasileiros que moram fora, os Estados Unidos são o principal destino.
Distantes das grandes potências europeias, os Estados Unidos fizeram do seu imenso país o seu universo. Os norte americanos garantiram conexões válidas de diferenças políticas e econômicas (assim como acontece na Europa) dentro da própria nação. Embora unidos, os Estados Americanos são independentes. Com 50 Estados, os Estados Unidos se diversificam em várias matérias dentro do mesmo país. Quando o assunto é o porte ostensivo de armas de fogo, apenas o Estado do Illinois e o Distrito Federal proíbem as armas curtas. No caso das armas longas, a proibição total de porte ostensivo é proibida em 06 Estados. Quando o assunto é a legalização da maconha, 39 Estados não aprovam o seu uso recreativo e 03 a recusam até mesmo para uso medicinal. A pena de morte foi abolida por 22 Estados. Sobre a eutanásia, ela se tornou permitida em 06 Estados.
No discurso de Paulo Guedes, ele ainda argumentou: “Peraí. Vai passear ali em Foz de Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, cheio de praia bonita. Vai pra Cachoeiro de Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu. Vai passear no Brasil, vai conhecer o Brasil, que tá cheio de coisa bonita pra ver”. O problema é que dentro do Brasil todos os lugares tem as mesmas leis, todos os termos elencados no parágrafo anterior dizem respeito ao Governo Federal aqui no Brasil, não importa se você está em Foz do Iguaçu ou Cachoeiro do Itapemirim, é sempre igual. Assim, os brasileiros não possuem modelos comparativos, eles não sabem o que deu certo no Estado vizinho e pode ser implementado no seu.
Uma política que dê liberdade aos Estados facilitaria as vidas das pessoas do país. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, existem cerca de 2,5 milhões de brasileiros morando fora do país. Em pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha, averiguou-se que 6 em cada 10 jovens pensam em deixar o país. Essas pessoas simplesmente se frustraram com os modelos políticos adotados no Brasil e não conseguem ver outra saída que não seja deixar a nação. Porém, a saída do Brasil lhes acarreta alguns obstáculos como a adaptação a nova língua e a xenofobia e a distância dos familiares. Esses brasileiros poderiam deixar a ideia de mudar de país e simplesmente mudar de Estado, continuar dentro desse imenso país. Um Brasil muito grande pode ter várias visões diferentes de mundo.
Outra questão primordial é a diversidade já existente no Brasil. Os Estados tem influências diferentes, não é possível comparar a Bahia e o Paraná, por exemplo. Diante dessa lógica, temos diversos movimentos separatistas no Brasil, como “Espírito Santo é meu País”, os capixabas alegam não ter semelhanças étnicas ou culturais com o restante do Brasil e “O Sul é meu País”, movimento que acredita no poder dos municípios. Celso Deucher, fundador do movimento, acredita que o Sul deve se separar a fim de dar poder para os municípios decidirem suas leis de acordo com os costumes de cada população. A fim de saber o posicionamento dos sulistas, foi realizado no ano de 2017 um plebiscito informal chamado Plebisul com 341.775 votos recolhidos dos quais 95% da população se manifestou favorável a separação. Claro que as votações não interferiram em absolutamente nada politicamente, o objetivo do movimento foi realizar uma pesquisa, entrando para a história como a maior pesquisa realizada na América e assim, mostrar para as autoridades quais são as pretensões do povo.
Mas ao invés de se pluralizar, nosso país preferiu seguir o modelo do fascismo italiano, que acreditava em uma união de todos em prol da nação, assim, os italianos teriam um só sentimento. É evidente que quanto mais poder se der para um único ente, mais autoritário ele terá condições de ser. Em 1937, na comemoração da “festa da bandeira”, o então presidente Getúlio Vargas ordenou que se queimassem as bandeiras dos Estados Brasileiros. O ato simbólico representava a nova Constituição Federal, que abolia as bandeiras estaduais, vigorando apenas a bandeira nacional. Na época, Francisco Campos, então Ministro da Justiça, proferiu um discurso, que foi relatado no jornal “Correio da Manhã”: “Bandeira do Brasil, és hoje a única. Hasteada a esta hora em todo o território nacional, única e só, não há lugar no coração dos brasileiros para outras flâmulas, outras bandeiras, outros símbolos. Os brasileiros se reuniram em torno do Brasil e decretaram desta vez com determinação de não consentir que a discórdia volte novamente a dividi-lo, que o Brasil é uma só pátria e que não há lugar para outro pensamento do Brasil, nem espaço e devoção para outra bandeira que não seja esta, hoje hasteada por entre as bênçãos da Igreja e a continência das espadas e a veneração do povo e os cantos da juventude. Tu és a única, porque só há um Brasil ─ em torno de ti se refaz de novo a unidade do Brasil, a unidade de pensamento e de ação, a unidade que se conquista pela vontade e pelo coração, a unidade que somente pode reinar quando se instaura pelas decisões históricas, por entre as discórdias e as inimizades públicas, uma só ordem moral e política, a ordem soberana, feita de força e de ideal, a ordem de um único pensamento e de uma só autoridade, o pensamento e a autoridade do Brasil“.
Sempre será melhor para o governo manter as pessoas dentro de uma caixa, de preferência que ela seja suja e sombria, assim, qualquer migalha dará a ilusão de um paraíso para aqueles que nela vivem. Sem poder olhar para o mundo fora da caixa, as pessoas sempre aceitarão políticas esdrúxulas, pois não conhecem nada além disso, suas realidades foram moldadas por alguém que delas depende, mas elas nunca saberão.
A próxima e última fraqueza será postada no dia 17/08/2020.
Por Francisco (Chicão).
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