Na busca por tratamentos contra a Covid-19 e suas consequências ao organismo, um artigo publicado no final do ano passado na revista científica Frontiers in Pharmacology indica que a cannabis é capaz de atuar na chamada tempestade inflamatória associada à infecção pelo coronavírus. O estudo foi realizado em modelos animais em cima do THC (um dos fitocanabinoides da planta) e administrado via intraperitoneal (no abdômen) de camundongos. O tratamento atenuou a inflamação nos pulmões, resultando em 100% de sobrevivência.
O achado lança luz sobre a possibilidade de usarmos a cannabis como tratamento complementar de quadros de Covid-19. Sabemos que essa infecção pode provocar a síndrome da angústia respiratória aguda e, em casos graves, levar a falência de múltiplos órgãos e morte. O estudo aponta que as células imunológicas, entre outras no organismo, produzem canabinoides próprios, os endocanabinoides, o que explicaria a ação dos fitocanabinoides nesse contexto.
Estudos com humanos devem ser feitos para comprovar o papel da cannabis na Covid-19, mas temos bons indícios de que ela pode ser útil e uma opção a mais de tratamento. Pacientes com quadros graves, que necessitam de internação em UTI, tendem a apresentar níveis elevados de citocinas inflamatórias. E a cannabis poderia ser adicionada às terapias anti-inflamatórias para conter esse problema. Além dessa ação, a cannabis ajuda a controlar o desequilíbrio no humor, dores persistentes, sensação de fadiga e distúrbios de apetite que, com frequência, permanecem após o quadro agudo.
Pesquisas em todo o mundo mostram que principalmente o THC mas também o CBD (outro fitocanabinoide) têm propriedades anti-inflamatórias. Os autores do estudo voltado à Covid-19 sugerem que os canabinoides atuam em diferentes vias e em grande número de células para suprimir a inflamação e, portanto, podem auxiliar a deter a tempestade de citocinas causada pelo coronavírus.
É por isso que os cientistas da Universidade de Nebraska e do Texas Biomedical Research Institute, nos Estados Unidos, recomendam que os experimentos com cannabis continuem ocorrendo. Podemos nos certificar em breve de que a planta é uma nova aliada nesta pandemia.
Maria Teresa Jacob é médica especialista em dor crônica e em cannabis medicinal, membro das Sociedades Internacional e Brasileira para o Estudo da Dor e da International Association for Cannabinoid Medicines (IACM)
Por Maria Teresa Jacob, médica especialista em dor crônica e cannabis medicinal
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